sábado, 16 de fevereiro de 2013

Minhas amigas e meus amigos

Olá leitor(a) do blog Karta Sosial,

O post de hoje vai tratar dos gêneros. Pra começar, sugiro que você assista este vídeo do pronunciamento que nossa presidenta fez em setembro sobre a redução das tarifas para 2013. Repare em como ela se dirige aos ouvintes e repare também em outros detalhes de gênero através do discurso.


A língua portuguesa, assim como outras derivadas do latim, tem distinção entre gênero masculino e feminino. Esse gênero não faz referência apenas ao sexo biológico, mas também ajuda a distinguir palavras num nível puramente gramatical, como o corte e a corte.
Assim como o sistema de gêneros oferece vantagens, ele também sofre com algumas incapacidades:
- Inclusão dos dois gêneros de forma equilibrada no plural.
- Referências com gênero indefinido ou que se aplica tanto ao masculino como feminino.
- Referências a seres com sexo biológico não perceptível ou inexistente, como muitos animais, seres infantis e divinos.
Sobra para o gênero masculino abarcar algumas dessas funções ou então se toma alguma solução diferente para tentar amenizar o problema.

Como visto no vídeo, uma solução para a inclusão dos gêneros é sempre falar duas vezes a mesma coisa, uma no feminino e outra no masculino (ou vice-versa): minhas amigas e meus amigos... Os pontos negativos aqui é que aumenta a quantidade de palavras e ainda pessoas podem reclamar da ordem em que elas aparecem.

Outra solução, até bem padronizada no Brasil em documentos, é colocar entre parênteses o final feminino junto com a palavra no masculino: o(a)s instrutore(a)s do(a)s aluno(a)s... Não deixa de ser estranho, pois subordina o feminino no masculino, além de "sujar" o texto com tantos parênteses. Existe ainda aquele velho problema dos anúncios de emprego, onde o empregador não quer especificar o gênero, mas é obrigado a fazer isso por falta de opção, às vezes fazendo prejuízo das classes de trabalho: precisa-se de operador de caixa (nenhuma mulher poderia se oferecer como candidata a este serviço?); Estamos recrutando costureiras (um homem seria incapaz de realizar a mesma função?).

Há uma tendência moderna entre pessoas que defendem a igualdade de gêneros em usar símbolos especiais (com pronúncias diferentes também) no lugar dos finais tradicionais: @ (entre -o e -a, com pronúncia fraca de "ó" /ɔ/) e também æ (entre -a e -e, com pronúncia de "é" /ɛ/). Assim, se usa frases como @s instrutoræs d@s alun@s... Apesar de ser mais igualitária, eu acho essa solução particularmente feia, tanto do ponto de vista da tipologia, quanto da dificuldade da pronúncia aberta fraca, e do próprio símbolo @ que ainda prioriza o "a" no centro e conflita com códigos de computador, como emailsAinda assim, fico feliz que tem gente preocupada em tornar o discurso mais justo no tratamento das pessoas, sem perder as vantagens do sistema de gêneros e a identidade que traz pro nosso idioma.

Ao invés de incluir, outros idiomas têm preferido através da história excluir seu sistema de gêneros em favor de um discurso mais neutro. É o caso do inglês, onde apenas alguns pronomes devem indicar o gênero biológico (he, she, it), e apenas algumas palavras têm formas diferentes entre feminino e masculino (man/woman, rooster/hem, ox/cow, actor/actress, policeman/policewoman, entre outras). Até mesmo nesses casos, atualmente se tem esforços para substituí-las por termos comuns, como o they singular e o police officer.

Agora vou mostrar a minha proposta inclusiva. Já estou usando na língua que estou construíndo para os brasileiros (se quiser, pode dar uma olhada em Braziliaŋ), mas caso as pessoas não o aceitem por completo, pelo menos incorporar o seu sistema de gêneros no português já seria um alívio, perto da iminente "ruína tipográfica politicamente correta" do nosso século.
Como já temos o final -o relacionado com o masculino e -a com o feminino, por que não designar -e para um novo gênero que possa servir tanto como um gênero indefinido no singular, como um gênro comum ou inclusivo no plural? Parece estranho? Então compare a simplicidade que este terceiro gênero traz às frases:

PT-Br com 2 gêneros: Brasileiras e brasileiros, minhas amigas e meus amigos...
PT-Br com 3 gêneros: Brasileires, mins amigues...
Braziliaŋ (BZ): Brazileri, miŋs amigi...

PT-Br com 2 gêneros: O(a)s instrutore(a)s do(a)s aluno(a)s...
PT-Br com 2 gêneros: @s instrutoræs d@s alun@s...
PT-Br com 3 gêneros: Es instrutores des alunes... (o masculino seria instrutoros)
BZ: Es iŋstruedori des aluni...

PT-Br com 2 gêneros: Procura-se cozinheiro (como está hoje, não fica explícito se o empregador aceita mulheres)
PT-Br com 3 gêneros: Procura-se cozinheire (se aplica tanto ao masculino quanto ao feminino. Se aparecesse procura-se cozinheiro, já se saberia que se trata de um cargo apenas para homens naquele momento)
BZ: Si prokura koziŋeri

Se você conhece alguém que defenda a igualdade de gêneros, mas usa aqueles símbolos estranhos na falta de opção melhor, convide "ilo" (ele ou ela) para ler meu blog e comentar. Você mesmo pode colocar seus sentimentos e ideias sobre isso aqui.

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